Guerra Luso-Holandesa | |||
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Guerra dos Oitenta Anos | |||
Armada Portuguesa vs. Companhias Holandesas: A captura de Cochim pela V.O.C. aos portugueses em 1663. Atlas van der Hagen, 1682. | |||
Data | 1595 – 1663 | ||
Local | Oceano Atlântico, Nordeste do Brasil, África Ocidental, Angola, África Oriental, Índia, Ceilão, Birmânia, Estreito de Malaca, Molucas, Indochina, Macau, Formosa, Japão | ||
Desfecho | Tratado de Haia
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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A Guerra Luso-Holandesa foi um conflito armado entre tropas portuguesas, contra as forças holandesas da Companhia Holandesa das Índias Orientais ou VOC e da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais ou WIC, que haviam ocupado territórios ultramarinos portugueses durante o domínio espanhol da coroa portuguesa, tais invasões ocorreram principalmente no Nordeste do Brasil e o litoral de Angola, ocorreu inicialmente no âmbito da resistência local, e mais tarde no que se denominou de Guerra da Restauração, tais confrontos armados, entraram para os anais da História, como o primeiro grande conflito à escala mundial.
Travada de 1595 a 1663, caracterizou-se principalmente pelas invasões das companhias majestáticas holandesas aos territórios do império português na América, África, Ásia (Índia e extremo oriente). Os confrontos foram iniciados durante a dinastia Filipina, a pretexto da Guerra dos Oitenta Anos, travada então, na Europa, entre a Espanha e os Países Baixos. Portugal foi envolvido no conflito por estar sob a coroa Espanhola dos Habsburgos, durante a chamada União Ibérica, mas os confrontos ainda perduraram, mesmo vinte anos após o 1º de dezembro de 1640 da Restauração da Independência
O conflito estaria pouco relacionado com a guerra na Europa, servindo principalmente o propósito de estabelecer um império ultramarino holandês, assim como o domínio do comércio das especiarias, aproveitando a vulnerabilidade dos Portugueses. Forças Inglesas, rivais de Espanha e livres da aliança que os ligava aos portugueses durante a União Ibérica, também auxiliaram os holandeses em certos momentos, até à restauração, altura em que a aliança voltou vigorar.
A guerra resultou na perda do domínio português no oriente e na fundação do império colonial holandês nos territórios conquistados. As ambições holandesas noutros teatros de competição económica, como o Brasil e Angola, foram em grande parte invertidas pelos esforços Portugueses. Os interesses Ingleses beneficiaram também do conflito prolongado entre os seus dois principais rivais no oriente.
Em 1581, um ano após a União Ibérica, os territórios que formavam a União de Utreque, também sob domínio dos Habsburgos, revoltaram-se e depuseram Filipe II de Espanha declarando a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos.
Durante a União Ibérica, Portugal continuou a ser formalmente um reino independente com administração própria, mas sua política externa e naval tornou-se cada vez mais subordinada e orientada pelos interesses espanhóis. Em 1588 a esquadra portuguesa é utilizada por Filipe I de Portugal (Filipe II de Espanha) para combater os inimigos do rei. Por causa disso os mais poderosos navios portugueses foram incorporados à Invencível Armada espanhola.
Após a derrota da Invencível Armada em 1588 deu-se uma enorme expansão do comércio marítimo holandês, com os holandeses estendendo os seus ataques aos domínios marítimos espanhóis.
No início do século XVII, Portugal tinha o domínio quase exclusivo do comércio no Oceano Índico, porem, o império português, sem autonomia e formado sobretudo de assentamentos costeiros, vulneráveis a ser tomados um a um, tornou-se um alvo fácil. Portugal viu seu grande império ser atacado por ingleses, franceses e holandeses, todos inimigos da Espanha. A reduzida população portuguesa (cerca de um milhão) não foi suficiente para resistir a tantos inimigos, e o Império começou a desmoronar.[1]
O surgimento da potência marítima holandesa foi rápido e extraordinário: durante anos, marinheiros holandeses haviam participado em viagens portuguesas ao oriente. Jan Huygen van Linschoten, que vivera em Lisboa, teria recolhido relatos, informação e mapas, ao integrar a comitiva de frei Vicente da Fonseca, em 1583, que fora nomeado arcebispo de Goa.[2] Em 1598, regressaria aos Países Baixos, onde publicou as suas observações sobre o oriente e a navegação. Cornelis de Houtman, que também passara por Lisboa, seguiria as suas indicações na primeira viagem exploratória holandesa, assinando um tratado com o sultão que dominava o estreito de Sunda, entre Java e Sumatra.
Os Países Baixos são geralmente considerados como o agressor, pois o seu ataque às possessões Portuguesas foi unilateral, e a iniciativa da guerra coube sempre ao lado holandês. Por outro lado, poderia ser invocado que, estando Portugal sob domínio Espanhol durante o curso da maior parte do conflito (depois de herdada a coroa de Portugal por Filipe II de Espanha) e dado que a Espanha combatia os holandeses na Flandres, tentando sufocar a guerra da independência dos Países Baixos, parece legítimo que os holandeses levassem a guerra a todos os cantos do Império Espanhol. Esse argumento é, entretanto, contrariado pelo fato de a Guerra Luso-Holandesa ter prosseguido depois da Restauração Portuguesa (1640). Como será visto mais à frente, a verdadeira motivação da guerra foi a tentativa holandesa de tomar o controle do comércio de especiarias da Índia, o que não é consistente com nenhuma justificação técnica de defesa militar.
A Holanda começa o século XVII como a maior potência naval da Europa, possuindo mais navios do que qualquer outro país europeu. Em 1602, foi fundada a Verenigde Oost-Indische Compagnie ou VOC, com o objectivo de partilhar os custos da exploração das Índias Orientais e eventualmente restabelecer o comércio das especiarias, vital fonte de rendimentos da novíssima República das Sete Províncias Unidas.
As Sete Províncias Unidas encontravam-se, na altura, em luta contra os Habsburgo pela sua independência, e a razão pela qual os holandeses procuraram apoderar-se do comércio das especiarias foi a sua sobrevivência económica: até à união das coroas Portuguesa e Espanhola, os mercadores Portugueses usavam os Países Baixos como plataforma para introdução das especiarias no norte da Europa, através de uma feitoria em Antuérpia, cidade forçada a render-se aos espanhóis em 1585. Depois de anexar Portugal, a Espanha declarou um embargo a todas as transacções comerciais com as Províncias Unidas, territórios secessionistas desde a União de Utreque.
Isto significava que, a partir de então, todo o comércio seria feito através dos Países Baixos do Sul, os quais, de acordo com a União de Arras (ou União de Utreque) eram fiéis ao monarca Espanhol e professavam o Catolicismo Romano, contrastando com o norte holandês, protestante. Isto significava ainda que os holandeses acabavam de perder o seu mais lucrativo parceiro comercial e a sua mais importante fonte de financiamento da guerra contra Espanha. Adicionalmente eles perderiam o seu monopólio de distribuição na França, no Sacro Império Romano-Germânico e norte da Europa. A sua indústria de pescas do mar do Norte e as actividades comerciais cerealíferas no Báltico não seriam simplesmente suficientes para manter a República.
A West-Indische Compagnie (WIC) seria fundada, em 1621, para assegurar o monopólio do comércio com as colônias ocidentais. Sua criação foi uma iniciativa de calvinistas flamengos e brabanteses que se haviam refugiado na República das Sete Províncias, para escapar à perseguição religiosa.
Para efeito de comparação, vale ressaltar que, na primeira metade do século XVII, Portugal possuía grandes e poderosos navios de guerra, mas não em número suficiente para proteger todos os seus domínios marítimos. Alguns navios portugueses como o galeões Santa Teresa e Padre Eterno foram considerados uns dos maiores navios do mundo em sua época. A Holanda, por sua vez, tinha a maior frota de navios do mundo, que era composta, em sua maioria, por navios de pequeno e médio porte que eram mais fáceis de manter e de manobrar. Os holandeses chegaram mesmo a atacar a Inglaterra, na foz do rio Tâmisa (chegando a poucos quilômetros de Londres), durante a primeira e segunda Guerras Anglo-Holandesas.[3]
Embora conseguindo recuperar o Brasil e importantes territórios em África, onde o império português viria a centrar-se nos anos seguintes, Portugal perdeu para sempre a proeminência no oriente. Os Países Baixos consolidaram a sua independência e formou o Império colonial holandês, abrindo caminho ao século de Ouro dos Países Baixos, apesar de grandes custos e perda de recursos melhor utilizados na prevenção da rivalidade económica inglesa. A Inglaterra também saiu beneficiada porque derrotou a maior ameaça à sua autonomia através da sabotagem das rotas marítimas espanholas, e porque conseguiu que os seus principais parceiros económicos (e potenciais rivais) entrassem em guerra entre si.
A entrega, feita à Inglaterra, das possessões portuguesas de Bombaim e Tanger seguiram o plano da política internacional portuguesa, cujo objetivo era trazer os ingleses para perto dos domínios portugueses na África e na Ásia para que ambos pudessem se ajudar mutualmente na defesa de seus territórios contra-ataques holandeses e franceses.[11]