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Humberto Maturana
Humberto Maturana
Nascimento 14 de setembro de 1928
Santiago
Morte 6 de maio de 2021 (92 anos)
Santiago
Cidadania Chile
Alma mater
Ocupação biólogo
Prêmios
  • Bolsa Guggenheim
  • National Prize for Sciences (Chile) (1994)
  • honorary doctorate of the Vrije Universiteit Brussel (1987)
Empregador(a) Universidade do Chile
Causa da morte pneumonia

Humberto Maturana (Santiago, 14 de setembro de 1928 – 6 de maio de 2021) foi um neurobiólogo chileno, crítico do realismo matemático e criador da teoria da autopoiese e da biologia do conhecer, junto a Francisco Varela. É um dos propositores do pensamento sistêmico e do construtivismo radical.

Biografia

Maturana concluiu seus estudos no Liceo Manuel de Salas em 1947 para logo ingressar na carreira médica da Universidade do Chile. Em 1954 seguiu para a University College of London para estudar anatomia e neurofisiologia, graças à bolsa da Fundação Rockefeller. Em 1959 obteve o Doutorado em Biologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Posteriormente, registrou pela primeira vez a atividade de uma célula direcional de um órgão sensorial, junto ao cientista Jerome Lettvin do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT). Pela condução desta investigação ambos foram candidatos ao Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, ainda que não obtivessem a premiação. Em 1960 voltou ao Chile para desempenhar a função de professor adjunto na disciplina de Biologia da Escola de Medicina da Universidade do Chile. Fundou o Instituto de Ciências e a Faculdade de Ciências da Universidade do Chile em 1965.

Em 1970 criou e aprimorou o conceito de Autopoiese, que explica como se dá o fechamento dos sistemas vivos em redes circulares de produções moleculares, em que as moléculas produzidas com suas interações constituem a mesma rede que as produziu e especificam seus limites. Ao mesmo tempo, os seres vivos se mantém abertos ao fluxo de energia e matéria, enquanto sistemas moleculares. Assim, os seres vivos são "máquinas" que se distinguem de outras por sua capacidade de auto produzir-se. Desde então, Maturana tem desenvolvido a Biologia do conhecimento.

Em 1990 foi designado Filho Ilustre da comunidade de Ñuñoa (Santiago do Chile). Além disso, foi declarado doctor honoris causa pela Université Libre de Bruxelles. Em 1992, junto ao biólogo Jorge Mpodozis, gera a ideia da evolução das espécies por meio da deriva natural, baseada na concepção neutralista de que a maneira em que os membros de uma linhagem realizam sua autopoiese se conserva transgeracionalmente, em um modo de vida ou fenótipo ontogênico particular, que depende de sua história de interações, e cuja inovação conduziria à diversificação das linhagens.

Em 27 de setembro de 1994 recebeu o Prêmio Nacional de Ciência no Chile graças a suas investigações no campo da percepção visual dos vertebrados e a seus modelos conceituais a respeito da teoria do conhecimento.

Foi co-fundador e docente da Escola Matríztica de Santiago[1], na capital Santiago - Chile, onde trabalhou com Ximena Davila (co-fundadora e docente) no desenvolvimento da dinâmica da Matriz Biológico-cultural da Existência Humana. A proposta do instituto é explicar as experiências desde as experiências, como um fazer próprio do modo de viver humano (cultura), em um fluir no entrelaçamento do linguajar e do emocionar (conversar), que é desde onde surge todo o humano.

Uma das reflexões principais proposta por Maturana é o resgate das emoções nesta deriva cultural que as tem escondido. A evolução natural do ser humano, como um ser vivo particular, é centrada na emoção que determina esta deriva. E é a partir do amor, que permite as recorrências de encontros na aceitação do outro como legítimo outro, dando, por sua vez, origem à convivência social e, portanto, a possibilidade de constituição da linguagem, que surgimos como seres humanos.

"Dizem que nós, seres humanos, somos animais racionais. Nossa crença nessa afirmação nos leva a menosprezar as emoções e a enaltecer a racionalidade, a ponto de querermos atribuir pensamento racional a animais não-humanos sempre que observamos neles comportamentos complexos. Nesse processo, fizemos com que a noção de realidade objetiva se tornasse referência a algo que supomos ser universal e independente do que fazemos, e que usamos como argumento visando a convencer alguém quando não queremos usar a força bruta." (extraído do livro "A Ontologia da Realidade" de Humberto Maturana - Ed. UFMG, 1997)

Maturana morreu em 6 de maio de 2021, aos 92 anos de idade.[2]

Trabalho e linha de pensamento

A epistemologia de Maturana se desenvolveu, e denota um evidente traço marcante que a diferencia de outras, a partir do estudo e explicação do ser vivo que produz o conhecimento. Focado no ser humano, e explicando-o como um sistema autoconstrutivo, permeado de emoções e incapaz de distinguir entre percepção e ilusão, Maturana traça um caminho desde a explicação do agente para poder chegar à explicação do conhecimento científico, na qual o agente tem papel central.

Autopoiese

Característica de um sistema capaz de se autodefinir, autoconstruir e frequentemente se renovar a partir dessas duas primeiras ações. Ou seja, existe autonomia no estabelecimento de duas constituintes básicas de um sistema: estrutura e organização.

Além desses dois constituintes, ainda temos um terceiro: o meio. Mas este depende intimamente do ser que responde aos estímulos que provoca, sendo os estímulos respondidos de acordo com relações internas do ser perante esse estímulo externo. Ou seja, o estímulo parte de fora, mas a reação parte de relações internas do ser. Maturana atribuiu essa característica ao processo cognitivo, contrapondo ao que é (ou era) tido como o tradicional, de que o estímulo externo da experiência que define o processo de aprendizado, dizendo que são as correlações internas a partir dessa experiência que definem o aprendizado.

A filosofia da ciência e epistemologia de Maturana foi desenvolvida a partir da descrição daquele que sofre esse processo de aprendizado e que produz o conhecimento: o ser humano. Para Maturana, o ser humano é um sistema que define, constrói e modifica sua própria organização a partir de seu comportamento e suas ideias, sendo autoconsistente e autopoiético. Podemos traçar analogias com sistemas biológicos como células, que produzem internamente suas componentes, mas no caso específico do humano estamos tratando mais no campo dos pensamentos, e portanto da biologia da cognição.

Normalmente a organização é invariante, mas a partir da validação do observador, sendo essa o seu entendimento, pode sofrer modificações. Dentro dessa ideia, existem quatro domínios de estrutura:

Como os estímulos externos surgem a todo momento, então o ser está sempre respondendo a esses estímulos de acordo com suas relações internas e frequentemente se renovando e sofrendo mudanças, ao histórico dessas mudanças chama-se ontogenia.

A autopoiese, ou biologia da cognição ou biologia do conhecer é a gênese da epistemologia de Maturana, a partir dessa característica que define e explica o ser no qual se materializa o fenômeno do conhecer, toda a sua linha de pensamento é traçada.

Ilusão e percepção

Não somos capazes de distinguir diante da experiência o que é percebido do que é ilusório. Aquilo que percebemos ou sentimos define a experiência englobando o que é ilusão e o que é realidade. Se algo foi vivido como real, então é uma verdade, se não foi vivido como real é uma mentira, de forma que a verdade engloba o que é real e a ilusão percebida como real. Já a mentira engloba tudo que não se encaixa nesse contexto. Assim, verdade e mentira são identificadas pelo que se acredita durante a experiência de viver.

O erro é a afirmação pós-experiência que desmente uma experiência que vivemos como válida sendo uma ilusão, se não vivemos como válida, nunca poderá ser tida como um erro.

Explicações

Para explicar o conhecer é necessário explicar o conhecedor, entendido como sistema autopoiético. A ideia é explicar o observador e o observar, mas nesse ponto é preciso deixar clara a distinção entre explicar e experiência, ou seja, a explicação da experiência é diferente da experiência e então a explicação do observar é diferente do observar.

A explicação é uma abordagem no sentido de traduzir o porquê de estar sentindo, e não estritamente o que se está sentindo. A explicação é uma, pois existem diversas maneiras de fazê-lo, reformulação da experiência aceita por um observador, aceitação que pode se manifestar de diversas formas. Tudo isso extremamente cotidiano e usual.

A explicação e a experiência se dão na linguagem, tida como uma espécie de substrato básico da existência.

Para Maturana, a ciência consiste em um modo particular, rigoroso e preciosista de explicar, no sentido que o cientista é um apaixonado por um explicar segundo um critério de validação bem determinado. Portanto a ciência é uma glorificação da vida cotidiana.

Duas formas de aceitar explicações

Maturana subdivide as maneiras de aceitar explicações em duas categorias: a objetividade sem parênteses e a objetividade com parênteses.

Realidade

A definição de duas possíveis formas de aceitação do explicar nos levam a dois conceitos diferentes de realidade. Na objetividade sem parênteses, a realidade é independente do observador, e ele garante um acesso privilegiado a ela para explicar o que pretende, justificando-se na independência dessa realidade quanto a ele ou ao seu interlocutor.

Entretanto, a objetividade com parênteses a realidade depende do observador e das suas relações cognitivas operacionais internas para existir, portanto se há uma discordância com o interlocutor isso não significa que o outro está errado, apenas que ele se encontra em um outro domínio da realidade, e ele vive como válidas e explica as situações de acordo com suas relações cognitivas internas. Ou seja, a existência de uma realidade não implica na não existência da outra, ambas coexistem e são legítimas.

Emoções

Corriqueiramente na vida cotidiana transicionamos de uma forma para outra de explicar guiados pelas emoções, mudando de critérios e linhas de raciocínio. Contudo, quando pretendemos que haja concordância com o que falamos, usamos do subterfúgio ou do caminho da racionalidade, com uma linha clara e objetiva, que pretende ser inatacável, firme.

Nisso se consiste a ciência, e os cientistas defendem que a mesma deve ser feita sem interferência de emoções e predileções que distorçam o explicar em sua linha objetiva e admitem a falha que cometem ao deixarem essa interferência ocorrer. Mas Maturana defende que toda a ciência é baseada em motivações particulares que levam os cientistas a fazerem determinadas perguntas. Portanto a ciência se sustenta nas emoções, mas se pratica de modo emocionado uma forma imparcial, racional e objetiva de explicar.

Ciência

A ciência e o cientista são absolutamente cotidianos no sentido de que estão inseridos em um contexto que depende da linguagem e que são extremamente universais, então o que faz da ciência tão especial, ou melhor, específica? É o modo apaixonado de explicar - que é uma atividade cotidiana - ter um critério de validação específico que se baseia numa forma aceita amplamente. Ou seja, a ciência não é a verdade, mas se encontra em um domínio da verdade que é bem aceito por uma comunidade considerável de pessoas, aqueles que a aceitam.[3]

Obra

Livros

Capítulos de Livros

Artigos

Videos

Ver também

Referências

  1. Escola Matríztica de Santiago
  2. «A los 92 años fallece Humberto Maturana, biólogo, Premio Nacional de Ciencias y creador del aplaudido concepto de la autopoiesis». La Tercera (em espanhol). 6 de maio de 2021. Consultado em 6 de maio de 2021 
  3. * MOREIRA, Marco Antônio e MASSONI, Neusa Teresinha. Epistemologias do Século XX. Ed. Pedagógica e Universitária Ltda., 2011.

Ligações externas

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