J. G. Fichte | |
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Johann Gottlieb Fichte | |
Nascimento | 19 de maio de 1762 Ramenau, Saxônia, Sacro Império Romano-Germânico |
Morte | 29 de janeiro de 1814 (51 anos) Berlim, Reino da Prússia |
Alma mater | Colégio de Pforta Universidade de Iena Universidade da Lípsia |
Ocupação | Filósofo e Professor |
Principais trabalhos |
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Escola/tradição | Idealismo alemão Romantismo Alemão |
Principais interesses | Autoconsciência Filosofia Moral Filosofia Política |
Ideias notáveis |
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Religião | Luteranismo |
Assinatura | |
Johann Gottlieb Fichte (Ramenau, Saxônia, 19 de maio de 1762 — Berlim, 29 de janeiro de 1814)[1] foi um filósofo alemão pós-kantiano e o primeiro dos grandes idealistas alemães. Sua obra é considerada como uma ponte entre as ideias de Kant e Hegel, mas ele também tem sido reconhecido como um importante filósofo no seu próprio mérito graças às suas inovações como a ideia do Eu Absoluto e os conceitos de tese-antítese-síntese, que são a base do que hoje se conhece por pensamento dialético.
Assim como Descartes e Kant antes dele, Fichte se interessou pelo problema da subjetividade e da consciência humana.
Fichte também escreveu trabalhos de filosofia política e é considerado, por alguns, como um dos idealizadores do nacionalismo na Alemanha.[2]
Johann Gottlieb Fichte era um dos 10 filhos de um modesto artesão. Desde menino já sobressaía por sua capacidade de resumir precisamente o sermão dominical do pastor. Um nobre da região decidiu finalmente cuidar da sua educação, na escola principesca de Pforta, onde passou seis anos muito difíceis, pois Fichte sofria com a rigidez da hierarquia, tentando por vezes até fugir. Entretanto, neste mesmo período, Fichte começou a atualizar-se nas discussões mais importantes que estavam acontecendo nos meios filosóficos. Ocupou-se principalmente, da controvérsia entre Lessing e o teólogo Johann Melchior Goeze, pastor principal de Hamburgo, sobre a relação entre iluminismo e teologia.
Talvez não apenas por influência de seus pais, mas também por sua própria vontade, Fichte passa a estudar teologia, em 1780, em Jena. No embate que existia entre a liberdade e o determinismo, Fichte manifestava-se a favor do determinismo.
Devido à necessidade financeira e sem haver concluído seus estudos, Fichte passa a trabalhar como preceptor a partir de 1784, primeiramente em Leipzig, depois em Zurique, onde conhece Johana Rahn, uma sobrinha do poeta Klopstock que mais tarde será sua esposa.
Fichte decidiu devotar sua vida à filosofia, depois de ler as três Críticas de Immanuel Kant, publicadas em 1781, 1788 e 1790. Em 1790, ele volta para Leipzig, onde um pupilo seu pede para ter lições sobre a filosofia kantiana. Apesar de mal conhecer as obras de Kant, Fichte aceita o pedido e passa a estudar com afinco as obras de Kant, dando conta das três Críticas em poucas semanas. A leitura das Críticas foi muito importante para que Fichte superasse o determinismo, fazendo com que se evidenciasse que o "novo mundo" é o mundo da liberdade, que se evidenciava como a chave para entender toda a estrutura da razão. Segundo diz o próprio Fichte em carta a Johana "a vontade humana é livre, e a felicidade não é o fim do nosso ser, mas a dignidade de ser feliz". São, portanto, essas convicções que tornam Fichte um filósofo, aos 28 anos.
Sua investigação de uma crítica de toda a revelação obteve a aprovação de Kant, que pediu a seu próprio editor para publicar o manuscrito. O livro surgiu em 1792, sem o nome nem o prefácio do autor, e foi saudado amplamente como uma nova obra de Kant. Quando Kant esclareceu o equívoco, Fichte tornou-se famoso da noite para o dia e foi convidado a lecionar na Universidade de Jena. Acusado de ateísmo, perdeu o emprego e mudou-se para Berlim. Fichte foi um conferencista popular, mas suas obras teóricas são difíceis.
Morreu em 27 de janeiro de 1814. Encontra-se sepultado no Dorotheenstädtischer Friedhof, Berlim, Alemanha.[3]
Fichte exerceu forte influência sobre os representantes do idealismo alemão, assim como sobre as teorias filosóficas de Friedrich Schelling e G.W.F. Hegel.[4] Suas obras principais são Doutrina da Ciência, Doutrina do Direito e os Discursos à nação alemã (1807 - 1808).[5] Fichte pronunciou seus Discursos em plena ocupação militar do seu país pelos exércitos napoleônicos, conclamando o povo a construir a nação, superar a dominação estrangeira e as estruturas feudais ainda predominantes no país e que impediam a sua unificação - um processo que só seria concluído muito mais tarde, em 1871.[6]
Fichte não aceitou o argumento kantiano sobre a existência dos noumena ou "coisas em si", realidades supra-sensíveis além das categorias da razão humana. Ele viu a separação rigorosa e sistemática entre "coisas em si" e coisas "como nos são representadas" (fenômenos) como um convite ao ceticismo.
Em vez de aceitar tal ceticismo, Fichte sugeriu radicalmente que se deve abandonar a noção do mundo numenal (e a "coisa em si") e, em vez disso, aceitar que a consciência não tem seu fundamento no chamado "mundo real", imaginariamente representado como "fora" da consciência cognitiva. De fato, Fichte é famoso por seu argumento original de que a consciência não precisa de outro fundamento além de si mesma: dessa forma, o conhecimento não parte mais do fenômeno, mas do sujeito, na medida em que dá sentido ao mesmo processo cognitivo. Assim se cria o idealismo : a realidade, em termos epistemológicos, é produto do sujeito pensante; em oposição ao realismo ingênuo e ao empirismo, que afirma que os objetos a serem conhecidos existem independentemente do sujeito que os percebe.[7][8]
Essa noção acabou se tornando a característica definidora do idealismo alemão e, portanto, a chave essencial para entender a filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Embora rompa em certa medida com a crítica kantiana, Fichte é ao mesmo tempo o elo entre Kant —seu mestre— e a virada para o sujeito que caracterizará todo o idealismo alemão. Nesse sentido - e apesar das próprias opiniões escritas de Kant - Fichte se via como um seguidor consistente da obra de Kant. Conforme declarado na Fundação de toda doutrina da ciência, trata-se, em última análise, de dar continuidade às consequências epistemológicas e ontológicas contidas na postulação do sujeito kantiano. As categorias em Kant não têm gênese, são dadas; ao passo que, em Fichte, as categorias têm gênese, pois são autopoiéticas: são construídas na interação universal e necessária entre o "eu" e o "não-eu", e sua síntese.
Em sua famosa obra Foundation of Natural Law, Fichte estabelece que a autoconsciência é um fenômeno social. Ou seja: ele afirma que, embora sua existência dependa dos objetos do mundo externo, contudo, a mera percepção desses objetos externos depende da autoconsciência. A solução para esse paradoxo, para Fichte, é que um ser racional adquire plenamente sua consciência quando é "evocado" como consciente por outro ser racional fora de si. Por conta dessa necessidade de relacionamento com outros seres racionais para a obtenção da consciência, ele afirma que deve haver uma "relação de direito" em que haja um reconhecimento mútuo da racionalidade por ambas as partes.[7][8]
Na economia, desconfiava do livre comércio e de suas consequências, e defendia o que chamava de "estado comercial fechado": um esquema econômico regulado e solidário, com elementos de protecionismo contra a irracionalidade do mercado. No final da vida, e com a Restauração em curso na Alemanha, foi acusado de ateísmo e expulso da Universidade.
Em suas Contribuições destinadas a corrigir o julgamento do público sobre a Revolução Francesa, obra publicada em 1793, logo após a queda da Monarquia na França, Fiche reflete sobre a nova concepção de propriedade que a revolução trouxera - agora fruto de trabalho e não de privilégio, esfera de atividade e não de apropriação das coisas - e afirma que "todo homem que trabalha" tem direito a possuir "uma dieta suportável pelo corpo humano e em quantidade suficiente para recuperar as forças, um pedaço de roupas apropriadas, e uma habitação sã e sã". Para Jacques Droz, este é "o ponto de partida do socialismo fichtiano", cujos axiomas ele enuncia em Fundamento da lei natural segundo os princípios da doutrina da ciência (1796) e que seria posto em prática em O Estado Comercial Fechado (1800). Segundo Fichte, o Estado é quem deve garantir que cada pessoa receba um mínimo de bens que lhe permita viver "do seu próprio trabalho" "tão livre e confortavelmente quanto a natureza permitir".[7][8]
O homem deve trabalhar, não como um animal de carga que adormece sob seu peso e que, depois de reabastecer insuficientemente suas forças esgotadas, é despertado novamente para carregar o mesmo peso. Deve trabalhar sem medo, com prazer e com alegria, reservando o tempo livre para elevar o espírito e o olhar ao céu, para cuja contemplação foi feito.
Para atingir este objetivo, o Estado racional (Vernunftstaat) deve regular toda a atividade econômica no quadro de um "Estado comercial fechado" (autarquia), que mantém o mínimo possível de relações comerciais com o mundo exterior. No entanto, para que o sistema funcione, os cidadãos devem estar cientes de seus deveres e de seu compromisso com a comunidade; daí a importância que ele atribui à "educação nacional". O objetivo do sistema, como apontou Jacques Droz, não é "uma equalização artificial de condições; não tem em perspectiva uma distribuição mecânica dos bens, deixa ao trabalho individual o cuidado de aumentar a propriedade originalmente concedida». O socialismo de Fichte é, portanto, "um socialismo ético, e seu objetivo final é a realização do destino superior dos indivíduos".[7][8]
Os principais resultados da teoria exposta são estes: que, num Estado de direito, as três classes principais da nação se calculam entre si, e cada uma limitada a certo número de indivíduos; que a cada cidadão seja assegurada a sua parte proporcional em todos os produtos e manufaturas do país em troca do trabalho que lhe for atribuído, sem outro equivalente, como se pratica nos funcionários públicos; que para esse fim o valor das coisas em si é fixado e mantido, e seu preço em relação ao dinheiro; Finalmente, para que isso seja realizável, todo comércio entre cidadãos e estrangeiros deve ser impossibilitado. - O Estado Comercial Fechado (1800)[7][8]