Stefan Zweig
Stefan Zweig
Nascimento Stefan Zweig
28 de novembro de 1881
Viena, Áustria-Hungria
Morte 22 de fevereiro de 1942 (60 anos)
Petrópolis, Rio de Janeiro,
 Brasil
Causa da morte Suicídio com soporíferos
Nacionalidade Súdito do Império Áustro-Húngaro até 1918, austríaco até 1938 e britânico até sua morte
Cônjuge Friderike von Winsternitz

Charlotte Elizabeth Altmann.

Alma mater Universidade de Viena
Ocupação Escritor
Gênero literário Romântico Tardio
Magnum opus Brasil, país do futuro
Carreira musical
Período musical 1902 - 1942
Religião Judaísmo
Assinatura
Página oficial
www.casastefanzweig.org.br

Stefan Zweig (Viena, 28 de novembro de 1881Petrópolis, 22 de fevereiro de 1942) foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica.

A partir da década de 1920 e até sua morte foi um dos escritores mais famosos e vendidos do mundo. Suicidou-se durante seu exílio no Brasil, deprimido com a expansão da barbárie nazista pela Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

Biografia

Zweig nasceu em Viena, em 1881. Era o segundo filho do industrial Moritz Zweig (1845-1926), originário da Boêmia, e de Ida Brettauer (1854-1938), oriunda de uma família de banqueiros.[1] Seu avô materno, Joseph Brettauer viveu em Ancona, Itália, onde sua segunda filha Ida nasceu e cresceu. Seu irmão mais velho, Alfred, foi educado desde sempre para ser o sucessor do pai em seus negócios, e ambos tiveram uma infância e uma educação privilegiadas, graças à boa situação financeira de seus familiares.[2]

Stefan Zweig estudou Filosofia na Universidade de Viena, e em 1904 obteve seu doutorado com uma tese sobre A Filosofia de Hippolyte Taine. A religião jamais desempenhou papel central na sua formação: "Minha mãe e meu pai eram judeus apenas por acidente de nascimento", declarou Zweig em uma entrevista. No entanto, ele nunca renegou o judaísmo e escreveu várias vezes sobre temas e personalidades judaicos, como em "Buchmendel".[3]

Carreira

Sua primeira coletânea de poemas, Silberne Saiten ("Cordas de Prata"), foi publicada em 1902. Apaixonado pelas literaturas inglesa e francesa, o escritor traduziu para o alemão obras de Verhaeren, Keats, Morris, Yeats, Verlaine e Baudelaire. Seu círculo de amizades incluía Rimbaud, Romain Rolland, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann, Émile Verhaeren e Sigmund Freud, com o qual se correspondeu entre 1908 e 1939.[2]

Seu sucesso como autor dramático foi confirmado em 1912, quando suas peças "A Metamorfose da Comédia" e "A Mansão à Beira-mar" foram apresentadas em Viena. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, casou com a escritora Friderike von Winsternit e comprou uma casa em Salzburgo, onde viveu por quinze anos. Foi uma das fases mais ricas de sua produção literária. Escreveu as biografias de Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi e Stendhal. Anos mais tarde, lançou as biografias de Maria Antonieta, Fouché, Rilke e Romain Rolland.[2]

O jovem Zweig (em pé), com o irmão Alfred (c. 1900).

Conseguiu o reconhecimento como narrador, poeta e ensaísta durante os anos de 1920 e 1930. Desse período, destacam-se os romances "Amok" (1922), "Angústia" (1925) e "Confusão de Sentimentos" (1927), baseados na psicanálise.

No início da Primeira Guerra Mundial, o sentimento patriótico se disseminou com força entre os cidadãos da Alemanha e da Áustria, assim como entre suas populações judaicas. Zweig, bem como outros intelectuais judeus como Martin Buber e Hermann Cohen, aderiram à causa germânica. No entanto, jamais se alistou nas forças combatentes, e trabalhou no arquivo do Ministério da Guerra. Com o desenrolar do conflito e o banho de sangue subsequente, Zweig se tornou pacifista, assim como seu amigo Romain Rolland. Até o final da guerra e pelos anos seguintes, Zweig se manteve fiel ao pensamento pacifista, defendendo a unificação da Europa como solução para os problemas do continente.

Separou-se de sua primeira esposa, Friderike von Winsternitz, e uniu-se com sua secretária, Charlotte Elizabeth Altmann (mais conhecida como "Lotte"). Em 1933, Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha e instalou a ditadura nazista. Com suas políticas antissemitas se disseminando até além das fronteiras, não demoraria para Zweig se sentir afetado na Áustria. Em 1934 deixou o país e passou a viver na Inglaterra, entre Londres e Bath, onde se naturalizou cidadão britânico.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e o avanço das tropas de Hitler pela França e em toda a Europa Ocidental, o casal atravessou o Oceano Atlântico em 1940 e se estabeleceu inicialmente nos Estados Unidos, em Nova Iorque. Em 22 de agosto do mesmo ano, fez sua primeira viagem para o Brasil.[4]

O exílio no Brasil e o suicídio

Casa Stefan Zweig em Petrópolis, no Brasil

Zweig e Lotte empreenderam três viagens ao Brasil. Na primeira, entre 1940 e 1941, para uma série de palestras pelo país, escreveu da Bahia para Manfred e Hannah Altmann, seus cunhados:

Foi nesta primeira viagem que Zweig, com a ajuda de Lotte, reuniu suas anotações pessoais e finalizou o ensaio "Brasil, país do futuro".[6] A alcunha de "País do Futuro", criada por Zweig, se tornaria um apelido para o Brasil.[7][8][9] De fato, apesar da depressão que já sentia por conta do desenrolar da guerra na Europa, o escritor tentava encontrar no Brasil as condições não apenas de recriar sua vida particular, mas também da antiga atmosfera de seu continente natal. Segundo Alberto Dines, autor de uma biografia do escritor, Zweig seria um dos últimos remanescentes da cultura e do modo de vida europeus do século XIX. Seu desânimo com o avanço do nazismo, na verdade, viria de muito tempo antes, desde a Primeira Guerra Mundial, quando os primeiros sinais de rompimento com a velha ordem imperial europeia se mostraram.

Zweig foi recebido com entusiasmo tanto pela comunidade intelectual local quanto pelas autoridades políticas. Para os intelectuais brasileiros, a presença de tão renomado escritor em terras nacionais trazia prestígio e oportunidades de um intercâmbio com outros escritores estrangeiros. Mas para as autoridades políticas, a chegada de Zweig, com sua bagagem liberal e antinazista, era contraditória. O governo de Getúlio Vargas se mantinha no poder graças às políticas autoritárias e muitos de seus ministros e assessores militares eram simpatizantes do nazifascismo. Isso não impediu que os elementos menos autoritários do estado brasileiro usassem Stefan Zweig para atingirem seus objetivos.

"Considerando que o nosso velho mundo é, mais do que nunca, governado pela tentativa insana de criar pessoas racialmente puras, como cavalos e cães de corrida, ao longo dos séculos a nação brasileira tem sido construída sobre o princípio de uma miscigenação livre e não filtrada, a equalização completa do preto e branco, marrom e amarelo".

A partir da terceira viagem ao Brasil, Lotte e Zweig se estabeleceram em Petrópolis, cidade na serra do Rio de Janeiro, onde finalizou sua autobiografia, "O Mundo que Eu Vi"; escreveu a novela "Schachnovelle: Conto de Xadrez" e deu início à obra "O Mundo de Ontem", um trabalho autobiográfico com uma descrição da Europa de antes de 1914.

Morte

Em 22 de fevereiro de 1942, deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa e sem esperanças no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a esposa, Lotte, com uma dose fatal de barbitúricos, na cidade de Petrópolis, no Brasil. A notícia chocou tanto os brasileiros quanto seus admiradores de todo mundo. O casal foi sepultado no Cemitério Municipal de Petrópolis, de acordo com as tradições fúnebres judaicas, no perpétuo 47.417, quadra 11.[10][11]

A casa onde o casal cometeu suicídio é, hoje, um centro cultural dedicado à vida e à obra de Stefan Zweig.[6][12][13]

Em uma nota de despedida, Zweig escreveu:

Obra literária

Nota do jornal francês Le Petit Parisien sobre a morte do escritor
Exibição de um exemplar parcialmente queimado de Amok, sobrevivente da queima de livros de 1933 (Bebelplatz, Berlim, 10 de Maio de 2012.

Zweig escreveu também uma espécie de autobiografia, intitulada O Mundo Que Eu Vi (Die Welt von Gestern), na qual relata episódios de sua vida tendo como base os contextos históricos do período em que viveu (como, por exemplo, a Monarquia Austro-Húngara e a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais).

Cartas

No cinema

Na literatura

O escritor catarinense Deonísio da Silva recontou a história da morte de Stefan Zweig no romance Lotte & Zweig, publicado pela Editora LeYa, em 2012 (125 páginas). O enredo se inicia em primeira pessoa, com o próprio Stefan narrando os preparativos para o suicídio, quando o foco muda para um narrador em terceira pessoa que descreve o duplo homicídio com envenenamento do casal, fazendo assim coro à versão mais famosa sobre os fatos.

Ver também

Referências

  1. Prof.Dr. Klaus Lohrmann "Jüdisches Wien. Kultur-Karte" (2003), Mosse-Berlin Mitte gGmbH (Verlag Jüdische Presse)
  2. a b c «Stefan Zweig». CPDOC Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  3. Domenech, João; Nougué, Carlos (1999). Stefan Zweig, uma biografia. [S.l.]: Record. 374 páginas. ISBN 8501049441 
  4. «Revivendo o país do futuro de Stefan Zweig». Consultado em 20 de fevereiro de 2011 
  5. «Brasil, o país do futuro... Até quando esperar?». Adminstradores. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  6. a b Cristina Romanelli (ed.). «Artistas do exílio». Revista de História da Biblioteca Nacional. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  7. «Brasil, país do futuro». Cidadania. Metodista 
  8. «O Brasil será sempre o país do futuro?». UOL. 30 de setembro de 2003. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  9. «Brasil, país do futuro». Observatório da Imprensa. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  10. Deonisio da Silva, ed. (25 de março de 2008). «Suicídio, assassinato coletivo». Observatório da Imprensa. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  11. «Em 23 de fevereiro de 1942, Stefan Zweig e esposa cometiam suicídio em Petrópolis». História, Ciências, Saúde - Manguinhos. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  12. Casa Stefan Zweig. Prefeito de Petrópolis encerra mostra sobre Zweig em Petrópolis. Página visita em 10 de junho de 2011
  13. «Prefeito de Petrópolis encerra mostra sobre Zweig em Petrópolis». Casa Stefan Zweig. Consultado em 22 de fevereiro de 2022 
  14. «Portal Politico del Ciudadano INEP, A. C. - 1942 Feb 23 Nota suicida de Stefan Zweig. Petrópolis, Brasil.». Inep. Consultado em 20 de novembro de 2020 
  15. Zweig, Stefan (2021). Conto de Xadrez: Schachnovelle. São Paulo: Montecristo Editora. ASIN B09JG9Z5XG. ISBN 9781619652835 

Ligações externas

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