UTI do Hospital Mário Dourado Sobrinho em Irecê, Bahia, Brasil

Uma unidade de tratamento intensivo (UTI) ou unidade de cuidados intensivos (UCI) é uma estrutura hospitalar que se caracteriza como "unidade complexa dotada de sistema de monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamento intensivos tenham possibilidade de se recuperar".[1] O profissional que se dedica a esta modalidade de atendimento chama-se intensivista.

A UTI é, juntamente com a Unidade Semi-Intensiva e a Unidade Coronariana (UCO), uma das 3 unidades do Centro de Terapia Intensiva (CTI). Na UTI, ficam os doentes mais graves, que requerem mais cuidados que na Semi-Intensiva. Já para a UCO, são mandados aqueles doentes que apresentam algum problema cardíaco.[2]

Conceito e estrutura

Terapia respiratória numa UTI.

A UTI nasceu da necessidade de oferecer suporte avançado de vida a pacientes agudamente doentes que porventura possuam chances de sobreviver, destina-se a internação de pacientes com instabilidade clínica e com potencial de gravidade. É um ambiente de alta complexidade, reservado e único no ambiente hospitalar, já que se propõe estabelecer monitorização completa e vigilância 24 horas.

As doenças são inúmeras o que torna muito difícil a compreensão de todas elas. Porém, os mecanismos de morte são poucos e comuns a todas as doenças. É atuando diretamente nos ditos mecanismos de morte que o médico intensivista tira o paciente de um estado crítico de saúde com perigo iminente de morte, pondo-o numa condição que possibilite a continuidade do tratamento da doença que o levou a tal estado (doença de base).

Os exemplos mais comuns de doenças que levam a internação em UTI são:

Ainda é função da UTI amenizar sofrimento tais como dor e falta de ar, independente do prognóstico.

Os profissionais que atuam nestas unidades complexas são designados intensivistas. A equipe de atendimento é multiprofissional e interdisciplinar, constituída por diversas profissões: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, terapeuta ocupacional, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. Não sendo admitidos no setor auxiliares de enfermagem devido a alta complexidade.

As UTI a partir da década de 1930 transformaram o prognóstico, reduzindo os óbitos em até 70%. Hoje todas especialidades utilizam-se das unidades intensivas, principalmente para controle de pós-operatório de risco.

É muito importante tanto para o paciente como para família compreender a UTI como etapa fundamental para superação da doença, porém tão importante é aliviar e proporcionar conforto independente do prognóstico. A equipe está orientada no respeito a dignidade e autodeterminação de cada pessoa internada, estabelecendo e divulgando a humanização nos seus trabalhos, buscando amenizar os momentos vivenciados através do paciente e família. A UTI é sem dúvida muito importante para o avanço terapêutico, porém impõe nova rotina ao paciente onde há separação do convívio familiar e dos amigos, que pode ser amenizada através das visitas diárias. Outro aspecto importante é a interação família-paciente com a equipe, apoiando e participando das decisões médicas.

História

O conceito de Terapia Intensiva (ou Intensive Care) foi estabelecido na Guerra da Crimeia no ano de 1854 através de Florence Nightingale, que separou homens de mulheres, adultos de crianças, graves de não graves. Estabeleceu a vigilância contínua, 24 horas, dia e noite, conhecida como a "Dama da Lâmpada" já que circulava à noite com uma lamparina para avaliar clinicamente os enfermos. A lamparina tornou-se a simbologia da assistência internacional da enfermagem. A criação da primeira UTI (ICU - Intensive Care Unit) ocorreu nos EUA em Boston através do médico neurocirurgião Walter Dandy no ano de 1927. Foram criados 3 leitos neuropediátricos pós-cirúrgicos. Neste mesmo ano surgia Philip Drinker que criou o primeiro ventilador mecânico, o "Pulmão de Aço". Hoje, estima-se que os EUA tenham 8000 Unidades e o Brasil, 3500. (FERRARI. D, 2000). No Brasil, Ana Neri foi o símbolo da Assistência a feridos graves, heroína, chamada "Mãe do Brasileiros", adotou órfãos paraguaios, quebrou normas para Salvar Vidas. "Em nome do Bem, já fez tanto Mal", referia-se às guerras entre seres humanos.

Era Florence

A Unidade de Terapia Intensiva é idealizada como unidade de monitoração de paciente grave através da enfermeira Florence Nightingale.

Em 1854 inicia-se a Guerra da Crimeia na qual Reino Unido, França e Turquia declaram guerra à Rússia. Em condições precárias a taxa de mortalidade atinge 40% entre os soldados hospitalizados.

Florence e mais 38 voluntárias por ela treinadas partem para os Campos de Scutari. Incorporando-se ao atendimento a mortalidade cai para 2%. Respeitada e adorada, torna-se referência entre os combatentes e importante figura de decisão. Estabelece as diretrizes e caminho para enfermagem moderna.

Era Dandy

Walter Edward Dandy nasceu em Sedalia, Missouri. Recebeu sua A.B. em 1907 através da Universidade de Missouri e seu M.D. em 1910 através da Universidade e Escola de Medicina Johns Hopkins. Dandy trabalhou um ano com o Dr. Harvey Cushing no Hunterian Laboratório do Johns Hopkins antes de iniciar seu internato e residência no Johns Hopkins Hospital. Ele trabalhou na Faculdade de Johns Hopkins em 1914 e permaneceu até sua morte em 1946. Uma das mais importantes contribuições para neurocirurgia foi o método de ar na ventriculografia, no qual o fluido cerebroespinal é substituído por ar para dar forma a imagem ao raio X do espaço ventricular no cérebro. Esta técnica era extremamente bem sucedida para identificar as lesões e alterações cerebrais. O Dr. Dandy também foi pioneiro nos avanços das operações para a doença da neuralgia do glossofaríngeo e de Ménière, e publicou os estudos que mostram a participação de discos projetando-se na dor ciática.

Era Peter Safar

Peter Safar, o primeiro médico intensivista, nasceu na Áustria, filho de médicos, e migrou para os Estados Unidos após permanecer no campo de concentração nazista. Formou-se médico anestesista e na década de 1950 estimulou e preconizou o atendimento de urgência-emergência. Ainda nesta época formulou o ABC primário em que criou a técnica de ventilação artificial boca a boca e massagem cardíaca externa. Para estes experimentos contava com voluntários da sua equipe o qual eram submetidos a sedação mínima. Ainda, através de experimentos, concretizou para o paciente crítico as técnicas de manutenção de métodos extraordinários de vida. Na cidade de Baltimore estabeleceu a primeira UTI cirúrgica e em 1962, na Universidade de Pittsburgh, criou a primeira disciplina de "medicina de apoio crítico" nos Estados Unidos. Iniciou os primeiros estudos com indução da hipotermia em pacientes críticos. Como últimas contribuições elaborou os projetos das ambulâncias-UTI de transporte, fundou a Associação Mundial de Medicina de Emergência e foi co-fundador da SCCM (Society of Critical Care Medicine), o qual foi presidente em 1972.

Equipamentos

Cada leito contém monitores cardíacos, cama elétrica projetada, oximetria de pulso e rede de gases. Dentre os principais equipamentos utilizados em UTI estão:

Técnicas

Procedimentos Cirúrgicos Eventuais: Procedimentos cirúrgicos de pequeno porte podem ser necessários. Nas situações emergenciais são realizados através do próprio intensivista e na rotina através da equipe cirúrgica especializada de apoio do Hospital.

Exames complementares de rotina

Todos os órgãos e sistemas são avaliados diariamente nos pacientes internados nas UTIs. Após avaliação clínica, são solicitados exames de rotina como:

Desconfortos psicológicos de uma UTI

Para os pacientes

Muitos fatores podem contribuir para o aumento do estresse e da ansiedade de pacientes que encontram-se acordados no ambiente da UTI, aqui citaremos apenas alguns:

Para a família

É sempre importante ter em mente que no ambiente hospitalar, não estaremos lidando apenas com os pacientes. Saber lidar com o emocional dos familiares, ter tato em passar notícias, falar sobre o óbito, pois não são só os pacientes que se fragilizam emocionalmente ao adoecer, o fato de ter um familiar hospitalizado acarreta muitas questões dentro das famílias e muitas dessas questões podem ser agravadas pela rotina do hospital. O que muitas vezes ocorre é o descaso com as famílias e a responsabilidade por lidar com elas é jogada apenas para o profissional psicólogo. Entretanto, a equipe multidisciplinar deve estar atenta aos fatores adoecedores, a importância que a família tem na vida do paciente, para a história clínica dele, para o cuidado com ele e estabelecer uma relação de diálogo e boa convivência, sempre considerando os aspectos sociais, econômicos e culturais que perpassam a vivência desses indivíduos. Alguns fatores que causam desconforto psicológico na família que tem um paciente em UTI são:

Equipe multiprofissional e interdisciplinar

Ver também

Referências

  1. «Resolução 81 - 5 de janeiro de 1995 - CREMESP». www.medicinaintensiva.com.br 
  2. Ana Paula Ferreira (4 de maio de 2013). «7 dúvidas comuns sobre a UTI». Revista Viva Saúde. Consultado em 15 de novembro de 2016 
  3. UNIÃO, Diário Oficial. «RESOLUÇÃO Nº 675, DE 31 DE OUTUBRO DE 2019 - CFF - ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO CLÍNICO EM UTIs». www.in.gov.br. Consultado em 26 de outubro de 2021 
  4. Bellissimo-Rodrigues, Wanessa Teixeira; Menegueti, Mayra Gonçalves; Gaspar, Gilberto Gambero; de Souza, Hayala Cristina Cavenague; Auxiliadora-Martins, Maria; Basile-Filho, Anibal; Martinez, Roberto; Bellissimo-Rodrigues, Fernando (dezembro de 2018). «Is it necessary to have a dentist within an intensive care unit team? Report of a randomised clinical trial». International Dental Journal (em inglês). 68 (6): 420–427. doi:10.1111/idj.12397 

Ligações externas

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