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Cantiga de amigo ou cantiga d'amigo em galego-português é um género medieval de poesia lírica, aparentemente enraizada em uma tradição de canções em voz feminina nativa do quadrante noroeste da Península Ibérica.[1][2]

Manuscrito das cantigas de amigo de Martim Codax, século XII

De acordo com Rip Cohen, "em 98% das composições quem fala é uma garota, a mãe dela, sua amiga ou um garoto (a quem é dada voz apenas em diálogos com a garota – no qual ela inicia). A garota pode falar com qualquer um dos outros três personagens, mas eles podem apenas a endereçar (não há nenhuma comunicação diretamente representada entre os outros três personagens: mãe, amiga e garoto não se falam no palco). Há uma dezena de cantigas com uma voz narrativa exterior, mas a maioria delas incluem palavras da canção de uma garota".[3]

A quantidade de situações, apesar de limitada, é ainda maior do que nas cantigas de amor, e a quantidade de atos de fala é ainda maior.[2]

Por sua vez, a retórica da cantiga de amigo, apesar de ser mais simples do que as outras cantigas, é mais complexa do que frequentemente era permitido, lentamente articulando uma ação (ou emoção) presente por repetição com variação, e normalmente segurando informação importante até o final. Há insultos, mas leves se comparado com as cantigas de escárnio e maldizer. Obscenidade e referências sexuais abertas são tabu, assim como na cantiga de amor.[2]

Muito tem sido dito sobre o simbolismo da natureza nesse gênero, mas o "simbolismo erótico nesse gênero, apenas de corretamente ter atraído atenção (...) não é tão comum quanto se era imaginado. Algumas dezenas fazem isso dele (por exemplo, um encontro junto ao rio, nascente ou à beira-mar). Muito mais frequentemente a sexualidade é expressada por palavras em código, como veer, falar e fazer ben".[4]

O que principalmente distingue a cantiga de amigo de outros gêneros é seu foco em um mundo de comunicação em voz feminina. Os exemplos mais antigos dessa cantiga que sobreviveram são datadas por volta dos anos 1220, e quase todas as 500 foram compostas antes de 1300. Cantigas de amigo são encontradas principalmente no Cancioneiro Colocci-Brancuti, agora na Biblioteca Nacional de Lisboa, e no Cancioneiro da Vaticana, ambos copiados na Península Italiana no começo do século XVI (possivelmente por volta de 1525) por ordem do humanista italiano Angelo Colocci. As sete cantigas de Martim Codax também são contidas, junto com a música de todas exceto um texto no Pergaminho Vindel, provavelmente um pergaminho da metade do século XIII e único em toda a filologia românica.

Estilisticamente, elas são caracterizadas por formas estróficas simples, com repetição, variação e paralelismo, e são marcadas pelo uso de um refrão (88% dos textos).[1] Elas constituem o maior corpus de líricas de amor em voz feminina que sobreviveram em toda a Europa antiga ou medieval. Há oitenta e outro autores, todos homens, os mais conhecidos sendo o rei Dinis I de Portugal (52 cantigas), Johan Airas de Santiago (45), Johan Garcia de Guilhade (22), Juião Bolseiro (15), Johan Baveca (13), Pedr' Amigo de Sevilha (10), João Zorro (10), Pero Meogo (9), Bernal de Bonaval (8), Martim Codax (7).[5] Até Meendinho, autor de uma única cantiga, foi aclamado como um poeta mestre.

A cantiga de amigo foi dita ter características em comum com a kharajat moçárabe, mas essas podem ser apenas coincidências de composições em voz feminina com temas eróticos.[6]

Exemplo

Vejamos um exemplo duma cantiga de amigo da autoria do rei D. Dinis:

Na cantiga Ai flores, ai flores do verde pino, de D. Dinis, as flores respondem e tranquilizam uma donzela saudosa e preocupada com a ausência do seu amado.

Sub-géneros

Distinguem-se vários sub-géneros:

As cantigas de amigo têm uma estrutura muito formalizada e rígida que se baseia na repetição. Os elementos característicos são:

Ver também

Referências

Ligações externas