Leo Strauss
Leo Strauss
Leo Strauss em 1939.
Nascimento 20 de setembro de 1899
Kirchhain, Reino da Prússia, Confederação Germânica
Morte 18 de outubro de 1973 (74 anos)
Annapolis, Maryland
Nacionalidade alemão e posteriormente norte-americano (naturalizado)
Progenitores Mãe: Jennie Strauss
Pai: Hugo Strauss
Cônjuge Miriam Bernsohn Strauss
Alma mater Universidade de Hamburgo Universidade de Friburgo Universidade de Marburgo Universidade de Columbia
Ocupação filósofo, professor universitário, escritor
Magnum opus Perseguição e a Arte de Escrever
Reflexões sobre Maquiavel
História da Filosofia Política
Escola/tradição Neokantismo(início)
Platonismo moderno[1] (mais tarde)
Hermenêutica Straussiana[2]
Republicanismo[3]
Principais interesses Metafísica, Epistemologia, História da filosofia (especialmente filosofia grega, islâmica, judaica e continental), Filosofia da religião, Filosofia política
Ideias notáveis
  • Os fins da política e da filosofia como irredutíveis um ao outro.
  • A tensão insolúvel entre razão e a revelação.
  • A filosofia como crítica ao positivismo, relativismo moral, historicismo e ao niilismo.
  • A escrita esotérica na filosofia.

Leo Strauss (Kirchhain, 20 de setembro de 1899Annapolis, 18 de outubro de 1973) foi um filósofo político teuto-americano de origem judaica.[4] Especialista em Filosofia Política, passou a maior parte de sua carreira como professor de Ciência Política na Universidade de Chicago, onde influenciou gerações de estudantes que ficariam posteriormente conhecidos como "Straussianos".[5]

Oriundo da tradição neokantiana de Ernst Cassirer e imerso no trabalho dos fenomenólogos Edmund Husserl e Martin Heidegger, Strauss estabeleceu sua fama primeiramente com suas leituras inovadoras das obras de Spinoza, Maquiavel e Hobbes e, posteriormente, com artigos sobre Maimônides e Al-Farabi. No final da década de 1930, concentrou-se sua pesquisa na redescoberta da escrita esotérica e na interpretação que a filosofia islâmica e judaica medieval fizeram das obras de Platão e Aristóteles, buscando mostrar a pertinência dessas abordagens para as teorias políticas contemporâneas.[6][7]

Biografia

Nascido em Kirchhain, numa família de comerciantes de implementos agrícolas, descobriu a obra de Friedrich Nietzsche durante seus estudos secundários. Dizia que, naquela época, acreditava literalmente em tudo que lia de Nietzsche.

Posteriormente foi estudar no Ginásio Philippinum em Marburg, cidade universitária próxima de Kirchain. A partir de 1918 estuda filosofia na Universidade de Hamburgo, onde foi orientado por Ernst Cassirer durante sua tese sobre a Teoria do Conhecimento no pensamento de Jacobi, tema que interessava à vertente neokantiana que à época predominava em Marburg.

Após a conclusão de sua tese, partiu, enfim, para a Universidade de Friburgo com a intenção de ser aluno de Edmund Husserl e de Martin Heidegger. Strauss ficou impressionado com as aulas de Heidegger, a ponto de afirmar que, ao lado de Heidegger "Cassirer parecia um anão".[8]

Leo Strauss participou da Primeira Guerra Mundial como intérprete na frente belga.

Depois um trabalho sobre Spinoza e sua crítica à Bíblia, trabalhou na "Academia do Judaísmo" (Akademie des Judentums) em Berlim sob a direção de Julius Guttmann. Na época Strauss obteve uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller para pesquisar em Paris sobre as filosofias árabes e judaicas medievais.

Em Paris ele reencontrou velhos conhecidos de Berlim, como Alexandre Kojève e Alexandre Koyré e casou-se, em 1932, com Mirjam Berenson. Posteriormente, o casal deixou Paris e partiu para Londres, onde Strauss ocupou um posto universitário em Cambridge. Na época, Strauss dedicou-se aos estudos dos manuscritos de Thomas Hobbes até 1937, quando partiu sozinho para os Estados Unidos.

Mirjam e Leo Strauss não tiveram filhos mas adotaram uma sobrinha de Strauss, Jenny, que ficou órfã em 1942 de sua mãe, Betty Strauss e de seu pai Paul Kraus, um especialista em ciências árabes, morto em circunstâncias obscuras no Cairo, durante a Segunda Guerra Mundial.[9][10]

Nos Estados Unidos, Strauss ocupou vários cargos nas faculdades, incluindo o de pesquisador da Universidade de Colúmbia) e de professor da New School for Social Research, ambos em Nova York, cidade onde lecionou sobre ciência política e filosofia a partir de 1939. Nova York já havia sido o destino de imigrantes intelectuais alemães como Hans Jonas e Hannah Arendt.

A Universidade de Chicago à qual Strauss está associado.

Em 1949, Strauss foi convidado para integrar a Universidade de Chicago por Robert Maynard Hutchins, cuja intenção era a de renovar o ensino das humanidades na universidade por meio de um programa de ensino dos livros clássicos. Segundo Hutchins não havia educação verdadeiramente liberal sem os grandes livros de tradição. Foi com esse espírito que ele propôs, portanto, a Leo Strauss o cargo de professor na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Chicago. Em 1968, depois de ter alcançado o limite de idade, Strauss deixou a Universidade de Chicago e foi para a Califórnia para lecionar por um ano na Claremont College.

Professor Emérito em Chicago, ele foi convidado amigo Jacob Klein, então decano da faculdade de St John, para dar aula em Annapolis, subúrbio de Washington, DC, em Maryland, onde trabalhou até o final de sua vida e onde faleceu, no dia 18 de outubro de 1973, vítima de pneumonia. Ele está enterrado no cemitério judaico de Annapolis.

Notáveis Straussianos

A influência de Strauss nas ciências humanas foi de grande impacto.[11] Richard Rorty, por exemplo, descreveu Strauss como uma influência particular nos seus primeiros estudos na Universidade de Chicago, onde Rorty estudava um "currículo clássico" com Strauss.[12]

Dentre as personalidades notáveis que frequentaram as aulas de Strauss na Universidade de Chicago ou que receberam influência direta de suas aulas, destacam-se Allan Bloom, Seth Benardete, Werner Dannhauser, Murray Dry, William Galston, Philip Gourevitch, Harry V. Jaffa,[13] Roger Masters,[11] Thomas Pangle, Stanley Rosen, Abram Shulsky (Diretor do Escritório de Planos Especiais),[14] Susan Sontag,[15] Warren Winiarski, Paul Wolfowitz (que participou de dois cursos de palestra por Strauss sobre Platão e Montesquieu) e Harvey C. Mansfield, que embora nunca tenha sido aluno de Strauss, também foi classificado como um notável "Straussiano".[16]

Filosofia

Para Strauss, política e filosofia estavam necessariamente entrelaçadas. Ele considerou o julgamento e a morte de Sócrates como o momento em que a filosofia política passou a existir. Strauss considerou um dos momentos mais importantes da história da filosofia o argumento de Sócrates de que os filósofos não poderiam estudar a natureza sem considerar sua própria natureza humana,[17] que, nas palavras de Aristóteles é a de "um animal político". No entanto, ele também sustentou que os fins da política e da filosofia eram inerentemente irreconciliáveis ​​e irredutíveis um ao outro.[18]

Parte da filosofia de Strauss foi desenvolvida como críticas às obras de Heidegger, de quem Strauss foi aluno.

Em Natural Right and History Strauss começa com uma crítica à epistemologia de Max Weber, dedicando-se ainda brevemente à crítica ao historicismo de Martin Heidegger e passando à discussão sobre a evolução dos direitos naturais por meio de uma análise do pensamento de Thomas Hobbes e John Locke. Ele conclui criticando ainda Jean-Jacques Rousseau e Edmund Burke. No centro do livro estão trechos de Platão , Aristóteles e Cícero. Grande parte de sua filosofia é uma reação às obras de Heidegger. De fato, Strauss escreveu que o pensamento de Heidegger deve ser entendido e confrontado antes que qualquer formulação completa da teoria política moderna seja possível, e isso significa que o pensamento político deve se envolver com questões ontológicas e da história da metafísica.[19]

Strauss escreveu que Friedrich Nietzsche foi o primeiro filósofo a compreender adequadamente o historicismo, uma ideia fundamentada em uma aceitação geral da filosofia hegeliana da história.[20] Heidegger, na visão de Strauss, politizou Nietzsche, enquanto Nietzsche acreditava que "nossos próprios princípios, incluindo a crença no progresso, se tornariam tão pouco convincentes e estranhos quanto todos os princípios (essências) anteriores se mostraram" e "a única saída parece ser ... que alguém voluntariamente escolhe a ilusão vivificante em vez da verdade mortal, que fabrica um mito". Para Strauss, Heidegger acreditava que o niilismo trágico de Nietzsche era em si um "mito" que Heidegger atribuiu a Platão. Em sua correspondência publicada com Alexandre Kojève, Strauss escreveu que Hegel estava correto quando postulou que o fim da história implica o fim da filosofia como entendida pela filosofia política clássica.[21]

A relação entre Strauss e o Neoconservadorismo estadunidense

Alguns críticos acusaram Strauss de ser elitista e antidemocrático, associando a filosofia de Strauss às fontes ideológicas neoconservadoras dos falcões da administração de George W. Bush, sobretudo durante a época da segunda guerra no Iraque.[22] Shadia Drury, em Leo Strauss and the American Right (1999), afirmou que Strauss incutiu uma tensão elitista nos líderes políticos americanos ligados ao militarismo imperialista, ao neoconservadorismo e ao fundamentalismo cristão. Drury argumenta que Strauss ensina que "o engano perpétuo dos cidadãos por aqueles que estão no poder é fundamental porque eles precisam ser liderados e precisam de governantes fortes para lhes dizer o que é bom para eles".[22]

Outros autores como Steven B. Smith rejeitaram a ligação entre Strauss e o pensamento neoconservador, argumentando que Strauss nunca foi pessoalmente ativo na política, nunca endossou o imperialismo e questionou a utilidade da filosofia política para a prática política. Em particular, Smith afirma que Strauss argumentou que o mito do Rei‐filósofo de Platão deveria ser lido como uma reductio ad absurdum, e que os filósofos deveriam compreender a política não para exercer influência, mas para garantir a autonomia da filosofia em relação à política.[23]

Respondendo às acusações de que os ensinamentos de Strauss fomentaram a política externa neoconservadora do governo George W. Bush com "esperanças irreais para a disseminação da democracia liberal por meio da conquista militar", Nathan Tarcov, diretor do Centro Leo Strauss da Universidade de Chicago, afirma que Strauss como filósofo político era essencialmente apolítico.[24]

Publicações

Livros e artigos

Em Português

Publicações originais
Escritos sobre Maimônides e a filosofia judaica

Referências

  1. Peter Graf Kielmansegg, Horst Mewes, Elisabeth Glaser-Schmidt (eds.), Hannah Arendt and Leo Strauss: German Émigrés and American Political Thought After World War II, Cambridge University Press, 1997, p. 97: "Many commentators think that [Strauss's] exposition of the true Platonist was meant as a self-description of Strauss."
  2. Winfried Schröder (ed.), Reading between the lines – Leo Strauss and the history of early modern philosophy, Walter de Gruyter, 2015, p. 39, "According to Robert Hunt, '[t]he Straussian hermeneutic ... sees the course of intellectual history as an ongoing conversation about important philosophical questions'."
  3. Pangle, Thomas L.]], Leo Strauss: An Introduction to His Thought and Intellectual Legacy. Baltimore: Johns Hopkins UP, 2006, p. 43.
  4. «The Truth about Leo Strauss» (em inglês). Consultado em 1 de julho de 2014 
  5. Mark C. Henrie (May 5, 2011). "Straussianism". First Principles – ISI Web Journal. Archived from the original on December 21, 2018. Retrieved November 24, 2014.
  6. The Leo Strauss Center website 'About' section
  7. «All the president's men and their fascist minds» (em inglês). Consultado em 1 de julho de 2014. Arquivado do original em 21 de fevereiro de 2012 
  8. Leo Strauss’s Critique of Martin Heidegger, Department of Philosophy Faculty of Arts University of Ottawa © David Tkach, Ottawa, Canada, 2011
  9. McLaren, Peter; Kincheloe, Joe L. (2007). Critical Pedagogy: Where are We Now? (em inglês). [S.l.]: Peter Lang 
  10. Saving America: Leo Strauss And The Neoconservatives
  11. a b Deutsch, Kenneth L.; Murley, John Albert (1999). Leo Strauss, the Straussians, and the American Regime (em inglês). [S.l.]: Rowman & Littlefield 
  12. Marchetti, Giancarlo. "Entrevista com Richard Rorty." Filosofia Agora Volume 43, outubro-novembro de 2003.
  13. [1]
  14. Hersh, Seymour (5 de maio de 2003). «Selective Intelligence». The New Yorker (em inglês). Consultado em 1 de junho de 2007 
  15. See L. Poague ed. Conversations with Susan Sontag, Interview with M. McQuade, 'A Gluttonous Reader', University of Mississippi Press, 1995, pp.271-278.
  16. Vol. XII, Number 2, Spring 2012 Leo Strauss in China
  17. Laurence Lampert, The Enduring Importance of Leo Strauss , University of Chicago Press, 2013, p. 126.
  18. Steven B. Smith, Lendo Leo Strauss: Política, Filosofia, Judaísmo , University of Chicago Press, 2007, p. 13.
  19. Velkley, Richard L. (2015). Heidegger, Strauss e as premissas da filosofia: sobre o esquecimento original (Paperback 2015 ed.). Chicago: University of Chicago Press . ISBN 9780226214948.
  20. Leo Strauss, "Relativismo", 13-26 em The Rebirth of Classical Political Rationalism , ed. Thomas L. Pangle, (Chicago: University of Chicago Press) 25.
  21. O Ensino Clássico do Direito Natural de Leo Strauss , SB Drury, revista Teoria Política , Vol. 15, nº 3 (agosto de 1987), pp. 299-315
  22. a b Nicholas Xenos, "Leo Strauss and the Rhetoric of the War on Terror," Logosjournal.com
  23. Robert Alter, "Neocon or Not?", The New York Times Book Review, June 25, 2006, citing Yale scholar Steven B. Smith, Reading Leo Strauss: Politics, Philosophy, Judaism (Chicago: U of Chicago P, 2006).
  24. Nathan Tarcov, "Will the Real Leo Strauss Please Stand Up" in The American Interest September–October 1986, at "Will the Real Leo Strauss Please Stand Up? - Nathan Tarcov - the American Interest Magazine"

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